Principal via de ligação do Recife ao interior de Pernambuco, a BR-232 ainda concentra um comércio peculiar no perímetro urbano de Gravatá, a cerca de 85 quilômetros da capital pernambucana. À beira da estrada, a venda de morangos ainda resiste. O produto, porém, é “estrangeiro” e vem de outros estados. A razão disso é que a cultura da fruta, que já foi símbolo da cidade, foi deixada de lado e trocada pela floricultura.
Não menos rentável, o oásis colorido se esconde no Brejo, região da Zona Rural do município, em várias estufas encravadas nas colinas da localidade. Onde, até 14 anos atrás, o morango reinava absoluto. Em pouco mais de 100 pequenos sítios, a paisagem agora é dominada por crisântemos, lisiantos, gérberas, liláceas gladíolos, rosas e tangos, entre outras espécies, produzidas e escoadas para o Grande Recife e o Nordeste.
“Plantei morango, maracujá e criei gado. O que deu retorno plantar mudas e flores. Há uns cinco anos, ninguém mais planta morango aqui”, diz o técnico agrícola e produtor Emanuel Messias do Nascimento, 32. No sítio de 5 hectares, Messias possui 40 estufas, sendo 14 de flores e 26 de mudas, um total de 8 mil metros quadrados de plantio. Em 2007, ele produzia 4 mil mudas/ano. Hoje, são mais de 120 mil.
O cultivo de flores em Gravatá, segundo a associação Floragreste, com 27 produtores associados, começou nos anos 1960, mas apenas nos últimos 14 anos ganhou força. No Brejo, 70% dos agricultores plantam flores. O restante é divido entre produtores de abacaxi (30%) e hortaliças e leguminosas em geral (10%).
“A sazonalidade, variedades rústicas produzidas e os custos explicam o fim da era do morango. As tentativas em cultivar tipos refinados com mais tecnologia e manutenção, adubos e ações contra pragas não deram certo. Com custos mais baixos e o mesmo clima favorável, a migração para as flores ocorreu naturalmente”, conta Lourenço Zarzar, agrônomo, produtor de flores e presidente da Floragreste.
Segundo ele, desde 2009 o crescimento do segmento bateu os 100%, à medida em que o mercado de eventos também aumentou. Entre as vantagens do negócio, estão o clima ameno de Gravatá, com temperatura anual média de 19°, e a fartura de água, já que muitas das propriedades possuem mananciais próprios. Hoje, a floricultura emprega cerca de 3 mil pessoas, entre vagas diretas e indiretas, atacadistas e distribuidores.

No sítio de 6 hectares, os irmãos Ailton e Geraldo Souza plantam dez tipos de flores em 40 estufas. A produção é vendida para Juazeiro do Norte (CE) e Campina Grande (PB) e rende, em média, R$ 10 mil mensais, apesar de quase a metade ser gasta com adubos, veneno contra pragas e frete (cerca de R$ 300 por semana para escoar a produção para a cidade). “A rotatividade das espécies nos dá colheitas toda semana”, atesta Ailton.
Apesar de consolidado, o setor reclama da ausência de incentivos de agentes financeiros para otimizar e elevar a produção. Muitos deles investem do próprio bolso, em virtude das dificuldades em obter financiamentos através do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), e dizem que os bancos alegam custos altos para a produção, ao passo que outras culturas, como abacaxi, custam bem menos.
A Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (Agefepe) possui opções para o setor de flores com juros mensais entre 1,2% e 1,35% e carência de três e 24 meses, “Há operações de microcrédito com volumes de R$ 15 mil para o pequeno produtor investir em capital de giro ou equipamentos, com o dinheiro indo direto para a conta bancária do produtor. Inclusive já atendemos a alguns produtores rurais de Gravatá”, ressaltou Agnaldo Nunes, presidente da Agefepe.
Ranking e novo perfil
Mesmo com as dificuldades, Pernambuco atualmente lidera o ranking de produtores no Nordeste e ocupa o quinto lugar o Brasil, segundo a Floragreste. Com mais apoio, é possível subir de patamar do mercado. De acordo com a Secretaria de Agricultura de Pernambuco, o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) “presta assistência técnica na região”. O órgão, porém, não possui dados atualizados do setor.
Entre os agricultores, há o reconhecimento do apoio do IPA, mas para a maioria deles a evolução do setor em Gravatá ocorreu na base do cooperativismo. “A gente troca ideias de plantio com os outros produtores, para melhorar a produção e movimentar o mercado. Um ajuda o outro”, diz Manuel Messias.
No fértil solo de Gravatá brota agora uma outra doçura, também rentável e multicolor que tem modificado o padrão de vida de quem escolheu plantar flores. “Hoje, muita gente tem TV a cabo em casa, carro e moto. O matuto ganha mais”, completa Messias.
Adaptado de texto do DP
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